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marcos augusto gonçalves

 

06/08/2012 - 03h00

Pivô

Fui visitar a Bienal de Chernobyl. Fica sob um sinuoso cartão-postal de concreto, com 140 metros de extensão e 118 metros de altura, localizado no centro de São Paulo. É ali, numa área de 3.500 m², em três andares do embasamento do edifício Copan, que um grupo de pessoas entre 25 e 35 anos prepara-se para lançar o Pivô, espaço que pretende ser "uma plataforma de diálogos e experimentações artísticas".

A inauguração vai acontecer no dia 4 de setembro, paralelamente à abertura da 30ª Bienal de São Paulo, com uma exposição que reunirá de representantes da jovem guarda das artes a nomes conhecidos, como Carmela Gross. A galeria Mendes Wood, uma das modernas da cidade, vai ter um salão só para seus artistas. Por enquanto, o cenário é de quebradeira, entulho e obras.

"Por isso começamos a chamar de Bienal de Chernobyl", brinca a artista Fernanda Brenner, 26, idealizadora do projeto, que ela por ora administra com três amigos e o apoio de contadores e advogados.

Em outros tempos, o espaço abrigava uma clínica dentária para funcionários do Bradesco. Depois foi leiloado e permaneceu quase vinte anos fechado, tempo em que o proprietário, sem sucesso, fez algumas tentativas de vendê-lo. Fernanda prefere não entrar em detalhes sobre nomes e relações.

"O que interessa é que fizemos um contrato de comodato e vamos criar um lugar novo no centro da cidade, um espaço cultural múltiplo e aberto", diz ela, enquanto um dos rapazes da diretoria cruza o pavimento em cima de um skate.

"O banheiro fica longe da sala onde funciona o escritório, então compramos esse skate, pra quem quiser ir mais rápido", explica.

A ideia de criar o Pivô formou-se depois de uma primeira ocupação da área, no ano passado, com uma intervenção coletiva chamada "Projeto Imóvel", que reuniu 28 jovens artistas, sem representação em galerias, além de workshops e palestras. Deu mais que certo. Bombou.

No dia da inauguração muita gente não conseguiu entrar, e a festa nas adjacências do Copan foi animada até tarde.

Dia 4 de setembro também será noite de festa, depois da abertura da exposição, que vai se chamar "Da Próxima Vez Eu Fazia Tudo Diferente" e exibir trabalhos de 14 artistas.

Para o curador, o arquiteto Diego Matos, a ideia é "estabelecer atritos na confluência entre arte e arquitetura", já que o evento acontece "num edifício de tamanha carga simbólica como o Copan", num espaço desativado e fantasmagórico, que parece suspenso no tempo.

Curiosamente, o projeto do Copan, que se tornaria um marco da triunfante locomotiva paulista, na década de 1960, nasceu em 1951, ano em que se inaugurava a primeira Bienal. Projetado por Oscar Niemeyer, com apoio de seu escritório em São Paulo, sob o comando do arquiteto Carlos Lemos, a encomenda original era um conjunto com dois prédios interligados, um de apartamentos e um hotel. Uma série de percalços levou o Bradesco a assumir a obra. O projeto sofreu modificações e Niemeyer nunca o assumiu por inteiro, embora reconheça que nasceu de suas mãos a linha curva do edifício, inaugurado em 1966.

Detonado pelo tempo, o Copan, depois de uma fase de decadência, revitaliza-se -e em breve deverá ter sua fachada restaurada. Ali já funciona há anos uma das melhores cozinhas de bar da cidade, o Dona Onça, e pessoas as mais diversas moram em seus 1.160 apartamentos -entre elas a atriz Mika Lins, o fotógrafo Rui Mendes e o diretor da Casa do Saber, Mario Vitor Santos. Agora é a vez da moçada do Pivô.

marcos augusto gonçalves

Marcos Augusto Gonçalves escreve para a Folha de Nova York. É editorialista e colunista do jornal. É autor de 'Pós Tudo - 50 Anos de Cultura na Ilustrada' (Publifolha, 2008) e de '1922 - A semana que Não Terminou' (Cia das Letras, 2012).

 

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